As vilas operárias fazem parte da história de Salto. Datadas do início do século XX, elas foram ocupadas por funcionários como uma forma de integrar o ambiente familiar com o profissional, e se tornaram um marco no desenvolvimento do município, referências em edificações no período, devido sua arquitetura e símbolo de um período do sucesso industrial.
Construídas pela Brasital e patrocinadas pelo Poder Público que deu à empresa isenção de impostos por mais de duas décadas, elas eram 240 casas em seu início, divididas em três grupos, na Avenida Dom Pedro II, no bairro da Barra e no Porto Góes, junto à fábrica de papel. Essas vilas mantinham um certo padrão, que era estruturado em volta de uma área comum no centro, o “quintalão”.
Sem ação do Poder Público, que não se organizou para tentar preservar o patrimônio municipal, embora fosse previsto no plano diretor de 2005, toda essa história vai sendo perdida pouco a pouco.
O quintalão de Porto Góes já não existe mais. Num processo de expansão da empresa, a Blendpaper não explicou sobre os novos empreendimentos que foram erguidos, e disse que as casas da vila operária estavam sem utilização e com diversas avarias, motivo esse que obrigou intervenções nas antigas moradias operárias. “Quando a Blendpaper assumiu a antiga Fedrigoni, encontrou essas casas já sem utilização há cerca de cinco anos. Inicialmente a intenção da Blendpaper era oferecer como moradia aos funcionários, mas após uma avaliação da área de engenharia foram identificados vários problemas na maioria das casas tais como lajes caídas, telhados semidestruídos, rachaduras em paredes, pisos destruídos e depredações em geral, o que tornava irrecuperáveis a maioria dessas casas. Vale destacar que as casas haviam sofrido diversas alterações na sua construção ao longo do tempo, descaracterizando-as completamente”, informou a empresa, em nota, garantindo que todas as intervenções foram aprovadas por órgãos fiscalizadores, inclusive o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Salto (Comdepac).
A informação sobre a autorização e provação pelo Comdepac foi confirmada pela Prefeitura de Salto.
Meses atrás, quando iniciou a obras, o historiador Rafael Barbi afirmou que as casas do Porto Góes haviam sido indicadas para tombamento pela Prof. Me. Patrícia Stahl Merlin, através do Comdepac. Barbi explicou que essas casas fazem parte do processo de industrialização do interior do Estado de São Paulo e que retratam o período de urbanização que se deu após a chegada das primeiras fábricas. “O conjunto de casas da Vila do Porto Góes tem uma importância fundamental como símbolo desse processo de urbanização pelo qual a cidade passou no começo do século XX. Por si só, essa situação já dá uma demonstração da importância da preservação desse bem para a cidade”.
O Executivo não informou se firmou algum acordo junto a empresa para a manutenção das residências que permaneceram em pé, tampouco falou sobre a situação do tombamento dos prédios.
Além das intervenções nas casas, a empresa também explicou as restrições ao acesso na rua de acesso às casas, paralelas à Rodovia da Convenção (SP-079). “Dada a maior exposição internacional que a Blendpaper vem tendo, também em função de diretrizes de segurança e devido a recentes casos de depredação e furto na área frontal da empresa, foi necessário o isolamento dessa área para o acesso de veículos e a restrição de atividades comerciais não autorizadas, que se encontra dentro da propriedade da empresa, devidamente registrada no cartório de registros de Salto. Vale destacar que a empresa manteve o acesso de pedestres”, completou a nota da empresa.